quarta-feira, 31 de outubro de 2012


Fumando aos pés da cama
e ela deitada, nua,
semi coberta.
Meia perna de fora.
Eu toco nela,
a pele quente,
sua leve pele
quentinha...
Meia perna de fora
convida a olhar
com culpa
por que o sono inocenta.
A perna se mostra,
inocente.
Ela, deitada, nua,
nem imagina que a observo.
talvez sinta, de alguma forma
minha mão percorrer
a inocente perna
até em cima,
onde está mais quente.
Vou descobri-la...

Betinho Matuszewski

Ouvindo Balzacs


Deixei de ler
o que estava lendo
para ouvir a música
que começou.
Gostai da voz,
da letra que fala
de envolvimento,
carência e conquista.
A voz dava tesão,
e tudo dava prazer.
O vinho, o som,
e a poesia
que lia
antes de ceder á harmonia
e a voz da guria
que faz esse som.
Senti o balanço,
a vontade,
o prazer do arranjo feito,
da canção gravada,
do som do violão,
do samba com distorção,
a textura
do pandeiro dobrado.
A criação.
É isso.

Betinho Matuszewski

Poema sobre separação


Do pouco que sobrou
do que era nosso
nestes dias quentes
deixe o ventilador.
Escorredor, perfume
e camisolas
te serão úteis.
Já que nem fica
em casa,
sente o calor
Que vem do sol.
A noite,
se refresca
olhando o céu
através das grades
do seu portão fechado.
A fortaleza,
onde metade das coisas
que eram nossas
Estão jogadas.
Postas sobre o tempo.
Há coisas que
não uso
mesmo.
Há coisas que morreram.
Da morte nunca
se esquece.
A dor pungente,
deixa a gente
sem vontade de usar
algumas delas.
Da vontade de sentar
no sofá,
abrir a geladeira,
olhar no espelho,
abrir a janela.
Só que nada existe mais
lá,
nem aqui,
nem ai.
Só algumas manchas,
incluindo a chesse.
Não quero falar
sobre manchas

Betinho Matuszewski

Vem,
senta,
conversa comigo
depois vai embora.
Pensa que vai,
parece que vai.
Até vai,
mas não inteiro.
Vai,
não sendo mais toda.
Vai, se deixando.
Deixando algo,
um pelo,
que seja.
Na verdade
mais que isso
Foi, se deixando.
Vai, ficando.
Fica, sem saber.

Betinho Matuszewski

Sobre o poema


Li outra
mais uma
agora três.
O poema que você fez
fez-se intimo,
infinitamente terno
a mim,
voraz pelo que és.
Um ímpeto débil,
despretensioso,
desprovido padece
até encaixar-se no esboço
que por ti
Me fiz.
Criei.
Tranquei-me ao ponto
de não ver-te
Fora.
Causei a imagem
a que me prendo.
Limpei o espaço que não tinhas
e sem querer roubar-te os dias,
consumi com calma
cada intento.
A impressão que agora tenho,
é de ter tido
a todo momento
a paz agitada do sofrimento
de desejar a todo tempo
o que tens de mim
agora.

Betinho Matuszewski

Poema improvisado


Desatinei a ler poeemas
de noite.
O vento
balança a janela
que treme
parecendo ter frio.
La fora
o silêncio desliza
quando não chove
ou passa avião.
Porém, se tem
festa na rua
resta dormir
longe de casa.

Betinho Matuszewski

Entre lençois

Saiu daqui de manhã,
deixou o capuz do meu casaco de moleton
igual ao meu lençol,
igual ao chão,
inundado de cabelos
misturados a outros que não eram dela.
Dela, só no chão
e no lençol.
Outras, por ai amassando o carro.
Decidi que quero aquela
que o cabelo se destaque
e se perca no vermelho do meu outro lençol
que combina vermelho e rosa.
Tive uma toalha amarela,
porém nenhum cabelo pra combinar.
Quero a que o cabelo grude no violão vermelho.
Aquela que perceba antes de mim
a arte que sai de mim e a expresse,
e que toda energia me interrogue,
e tudo que eu sinta, a envolva.

Betinho Matuszewski

Estranho

Suave
finge que doma,
é nada!
Manda.
Vamos ao cinema?
Nadar no domingo?
Me manchou de batom
pela primeira vez na boca,
da cor do vestido
e de algumas manchas
na cama.
E agora?
Esconde!
Não é nada,
foi só um barulho.
Um sonho.
Acordei suado.
Estranho,
ontem fez frio.
Nem fomos ao parque.
Na hora da chuva
faltou o cheiro dela.
Cansada,
dormiu sem ter culpa.
Impreciso,
dormi sem mentir.

Betinho Matuszewski

Em páginas de agenda

Deixei a chave na porta.
Perdi a outra.
Perdi minha caneta
no chão do quarto
onde falta espaço
até mesmo pra deixar
a cadeira que eu gosto
de sentar pra ler
As notas de um velho safado
e atualmente
On the road,
com os pés na mesa do computador
que só presta
pra escrever
os poucos poemas
que ás vezes
saem espontâneos
como tem que ser,
senão não presta.
A coisa tem que ser de coração.
Nos sábados das folhas da minha agenda
não da pra escrever
nada que não sejam
recados curtos.
Perdi minha blusa de moletom.
Tira-la dela
seria roubar-lhe o cheiro.
E traição,
podia ser minha nova composição
escrita na agenda
num dia qualquer da semana.
Ah, lembrei
de algumas coisas sobre casamento
e invasão de privacidade.
Lembrei de novo
que eu moro sozinho
e sinto falta de uns amigos meus.
Falta de companhia,
não é.
Eu sofro a falta
jurando que sou espontâneo.
Eu sinto falta de uns amigos meus.

Betinho Matuszewski